GRITO DE UMA CENA ANTI- ARTÍSTICA

Para Artaud, a encenação é o lugar privilegiado de uma germinação de formas que refazem o ato criador, formas capazes de dirigir ou derivar forças

Bem,  depois de chegar na capital dos Pampas, resolvi fazer um parênteses por entre os meus registros processuais e minhas referências da pesquisa da Boneca.  Quero conversar sobre um outro espetáculo que assisti ontem em Porto Alegre, RS.

Cheguei para assistir o espetáculo  "O HOMEM QUE NÃO VIVE DA GLÓRIA DO PASSADO", do João de Ricardo, meu amigo, colaborador do blog, parceiro de criação e trabalho. E tive uma impressão muito positiva `a repeito do trabalho, criatividade artística, estudos do corpo e pesquisa em artes cênicas. Diferentes das que li em alguns blgs de crítica, que achei completamente vazias de conteúdo.


Eu em primeiro lugar fiquei com muita pena de como o pensamento artístico, filosofico e plástico ainda é atrasado aqui nos Pampas gente Não é querer reclamar ou falar mal. Mas a gente lê, vê e escuta cada coisa que dói.  Acho que: quem busca produzir linguagem nova e de verdade ainda é mal compreendido e julgado aqui. Em cidades maiores onde a peleia é mais rústica, a galera não perde tempo com isso não. Mas como minha intenção não é fazer uma crítica que não aponte caminhos eu vou falar aqui a minha opinião sobre o espetáculo numa vibe meio Artaud. Que foi o texto escolhido e improvisado na hora do próprio pensador pela equipe, num tom de dar algo de novo para aquele dia de espetáculo.


O "HOMEM..", é extremamente autoral e sensível, é um espetáculo onde se percebe a minúcia e oscilações de um processo artístico que tem consistência humana. A gente vê a vida do artista e sua trajetória, não só do processo do espetáculo, mas caminho e busca pessoal artística. Eu tenho que citar aqui a cia Espaço em Branco há anos vem desenvolvendo linguagem, na introdução de tecnologia em cena, não só como um aparato plástico pronto, que é colocado no dia da estréia, mas algo que acompanha o processo, que é construído junto, que produz comunicação e flui com o corpo. Sem contar dos textos autorais, e das quebras de linearidade espaciais e sensoriais. 

É de fato uma Cia que é formadora de público e opinião crítica na cidade. Ética artística é reconhecimento social e político,  ou você aprende a respeitar o trabalho dos colegas e conversa sobre o que é produção de conhecimento artístico num tempo e num espaço,   e apontar caminhos de melhora, e não apenas caluniar. Criticar é apontar caminhos, soluções que você vê, mas que o outro não enxerga.  Criticar com ética,é criticar com respeito.

O " HOMEM..."  traz também uma questão fundamental paras artes do corpo que é a comunicação de um corpo que se abre para diversas linguagens. Na questão das artes corporais. Um corpo  que se comunica com vídeo, com softwares, com tecnologia da informação através de blogs e imagens, com movimento, com texto, com performance. 

Outro ponto interessante são que os leitmotives foram criados através de performances invisíveis, que o público só assiste no produto final. Que também está em aberto para modificações. Por exemlo o espetáculo que eu assiti ontem já sofreu modificações dos outros dias. Inclusive um texto do Artaud foi lido que falava da crítica vazia, sem fundamento.  Sensacional o artista lidar com a respostas diárias e alterar na sua obra o que lhe altera na vida.
E mais o Homem é interativo, todos fazem tudo, a luz é feita dentro e fora do palco, ele brinca com  tema do dentro e do fora do corpo, tanto com o público quanto com a tecnologia. Também com o músico que faz a trilha, os videomakers, todos estão em cena, em performance. O Ator/Performance atua, mas os "técnicos" estão em arte presencial, em live art. Aqui eu vejo uma conexão bárbara com a performance arte.
Sem contar que a dramaturgia é linda , e o texto é dado com clareza pelo João, que assume ser um desafio para ele atuar, e eu como atriz e performer acho que ele cumpre o papel super bem.
Eu falei para a equipe que os vídeos são tão bonitos e instigantes que senti falta de eles preencherem mais aquele teatro, talvés essa seha minha única crítica construtiva. E o tempo? Eu nem vi passar. E ao terminar o espetáculo fiquei sabendo que 20 minutos de cena haviam sido retirados. Eu veria esses 20 minutos e os outros 100 minutos vistos novamente.
Parabéns Equipe!!!
Que muitos HOMENS venham para quebrar tabus em Porto Alegre, no Brasil e no Mundo!!!
Viva a arte Autoral!!!

Um comentário:

  1. Belezura pura! Fiz uma leitura parecida. O espetáculo me pareceu fruto de investigação séria, um pessoal que pesquisa para criar. Legal o teu texto, transparente, o ponto de vista de alguém que estuda as mesmas questões. Parabéns.

    ResponderExcluir